Eu, como a maioria das pessoas, sofri bullying na escola. Não digo que a minha vida foi arruinada por causa disso ou que sou uma pessoa traumatizada, mas com certeza foi necessário muito amor próprio e muito apoio dos meus pais e amigos pra eu superar essa situação e me aceitar como sou sem me importar com julgamentos maldosos.
Hoje assisti a um filme chamado "A girl like her" (uma garota como ela) que retrata uma história real, filmada no estilo de documentário em 2015, de como o bullying pode ter consequências terríveis tanto na vida da vítima quanto, pasmem, na vida do agressor.
A história de Jessica Burns e Avery Keller retrata uma relação destrutiva e opressora que surgiu entre as duas numa típica escola de ensino médio norte-americana, com aquela velha doutrina dos vencedores e perdedores num nível master!!
A baixa auto-estima e a insegurança de Jessica não permitem que ela reaja de alguma forma, ou que conte a alguém, e a necessidade de controle que Avery tem a leva a aterrorizar a menina e viver em um universo em que até mesmo suas "amigas" são oprimidas por ela.
O que chama a atenção, com certeza, é o impacto que essa relação tem sobre a vida das duas e de todos os outros colegas, a omissão destes em tomar alguma atitude diante dos abusos presenciados e a falta de diálogo com os pais e com a escola: eles ignoram totalmente a situação pela qual elas passam e, quando finalmente descobrem, se assustam e se veem perdidos, sem saber lidar com algo tão sério.
Falando de forma geral é uma situação muito comum nas escolas, o que não significa que seja normal, e não vemos muito empenho nos adultos pra tentar ajudar as crianças e adolescentes que passam por isso... Muitas vezes o conselho que oferecem é: não liga pra isso, logo ela vai parar, esquece isso, ignora! E a justificativa do agressor é: ah ela não consegue aguentar uma piada?
Mas para uma criança ou adolescente cuja coisa mais importante na vida é ser aceito pelos outros, é descobrir a que mundo pertence, isso não basta!!
Em um trecho do filme, um pai durante um conselho escolar diz uma frase emblemática para se encontrar uma solução para o problema: uma pessoa ferida fere os outros. O que faz com que uma menina bonita, rica, que tem tudo o que quer e é muito popular seja cruel com outra garota ao ponto dela se atirar no fundo do posso? A resposta é que talvez a vida dela não seja tão perfeita assim e ela acaba usando o bullying como válvula de escape pras suas próprias inseguranças, revoltas e medos.
Garotas, falo delas por não conhecer muito bem o universo masculino neste assunto, parece que se envolvem em teias de competição na escola, no trabalho e dentro de quase todas as suas relações. Quando uma menina passa por um grupo de garotas, se for muito bonita vão falar mal dela por inveja, se for bem relacionada vão dizer que é falsa, se for muito feia, gorda, aí nem se fala, acabam com ela, se a roupa estiver inadequada, também vão falar mal. Mas afinal de contas: quem inventou esse padrão? Resposta: as próprias mulheres. Então a conclusão é que estamos nos prendendo nas correntes que forjamos e achamos isso certo!!
Que absurdo pensar que somos maravilhosas o suficiente pra julgar os outros, pra dizer aos outros o que vestir e como se comportar, desconsiderando o que o outro pensa e sente apenas para satisfazer um prazer pessoal de desfazer.
O bullying é, pra mim, não só uma crueldade que pode chegar aos extremos que vemos nos filmes e na vida real, indo do suicídio aos massacres em escolas, mas uma clara omissão da sociedade em relação ao que os jovens e crianças pensam e sentem diante das pressões que recebem todos os dias e que os levam a degladiar-se entre eles. Além disso, por onde anda aquela ideia de que devemos assumir os nossos erros? Passar a mão na cabeça de uma criança que agride a outra na escola vai ajudá-la em quê? Pode ser que a escola e os pais não percebam, mas a lição que essa atitude passa é a de que está tudo bem fazer o outro sofrer e gostar disso, está tudo bem não pensar antes de fazer, não assumir as consequências, só que essas consequências aparecem cedo ou tarde, de uma forma ou de outra, originando, muitas vezes, adultos piores ainda que vão criar seus filhos de forma mais negligente e assim continuar o ciclo de violência. Essa violência que não deixa marcas na pele, mas na alma.
Depois de ver esse filme eu entendi que as minhas agressoras também eram vítimas como eu e, apesar de não ter sido correto o que fizeram comigo, as maiores culpadas não foram elas. Pode ser que elas nem se lembrem que fizeram isso comigo, talvez não tenha tido a menor importância em suas vidas, talvez tenham crescido, amadurecido e se tornaram boas pessoas, e hoje eu sei que ja as perdoei por tudo, só peço a quem esteja lendo esse texto que reflita sobre como tem lidado com essas situações, se tem tido diálogo em suas famílias, escolas e trabalho, o bullying está por toda parte: qual o seu papel nisso tudo, onde a sua carapuça vai servir?
Trailer: https://youtu.be/wfbFaHTCkP4
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