domingo, 27 de março de 2011

Pensamentos de um domingo pacato

E se ao invés do tempo houvesse o nada? E se tudo o que nos rodeia não funcionasse cronologicamente e harmonicamente? Não sei o que haveria... talvez o caos, talvez uma nova harmonia... Mas o que seria de nós em meio a essas transformações? "dust in the wind..."

Às vezes nos deparamos com crianças de rua, mendigos, drogados, alcóolatras, pessoas doentes que não tem condições de pagar seus tratamentos, pessoas doentes do corpo e da alma, que passam o dia pedindo pela compaixão dos outros, esta que anda tão escassa, e que raramente tem paz, nem mesmo quando dorme num cantinho nas escadarias da Catedral. E o que pensamos? "São uns degenerados, uns vagabundos, deveriam estar trabalhando e estão aqui me fazendo perder o meu tempo!", até que um deles mata um filho seu, aí você se preocupa em simplesmente com a vingança e se esquece que aquele "degenerado" também tem família, também tem problemas, às vezes mais graves que os seus...

Se as pessoas são tão boas e maravilhosas como dizem, por que só pensam nelas mesmas? Por que fecham os olhos para os sofrimentos dos outros? Por que se iludem vivendo vidas "perfeitas" enquanto outros nunca vão ter a oportunidade de chegar perto disso?

Não devemos ser radicais e colocar todos os que precisam dentro de nossas casas, mas temos de ter a consciência de que é nosso dever ajudar aqueles que sofrem, não para nos auto-promover, mas para simplesmente fazer um pouquinho de bem nesse mundo triste e violento. 

No Brasil, os problemas começaram na própria colonização, pois desde 1530 muitos filhos ilegítimos foram colocados em casas de recolhimento de menores, crianças inocentes que não tiveram educação básica e eram vistos simplesmente como estorvos, e quando cresciam, eram vistos como marginais, como pestes que sujavam as ruas, sem perceberem que o que suja as ruas é a hipocrisia.

Não dá para jogar água fervente numa criança e purificá-la, não dá para bater e machucar seu corpo tendando fazê-la sentir arrependimento, pois as dores da vida ensinam muito mais e são muito mais dolorosas. Quando um garotinho te parar no trânsito pedindo dinheiro, imagine se um de seus filhos estivesse lá, embaixo daquele sol, com os pezinhos descalços, com a barriga vazia, implorando por um olhar e por um pouco de atenção.

Nós somos tão pequenos e frágeis perto do universo, por que nos achamos tão importantes a ponto de buscar incessantemente ser melhor que o outro, ter mais, mandar mais, odiar mais?

A minha avó materna morreu na terça feira e eu fico imaginando quantos idosos já não morreram tristes e sozinhos pelas ruas de Goiânia, sem um neto sequer para chorar por eles, sem um filho para fechar seus olhos, sem um amigo para rezar por eles e pedir que eles chegassem ao céu... 

Apesar da saudade, de certa forma eu sei que a minha avó não sofre mais... na hora da morte percebemos a nossa fragilidade, percebemos que somos uma pequena parte do mundo que nos cerca, somos feito de matéria e não podemos ser destruídos, apenas modificados. Surgimos da natureza e um dia voltamos para ela... Agora sim eu sei, com toda a certeza, que nós somos eternos e não devemos ter medo de viver, de amar, de ajudar, de ter amigos e de morrer, pois esta é a ordem natural das coisas e somos honrados em participar deste cosmos tão grande e belo, que é a Terra.

Tchau vozinha, eu vou sentir a sua falta!

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